sábado, 5 de novembro de 2011

A exceção


Sentou na cadeira do avião desejando com todas suas forças que ninguém sentasse ao seu lado. Desejou que o passageiro do lado tivesse uma dor de barriga, perdesse a passagem ou ganhasse na loteria, qualquer outra coisa que o impedisse de viajar. Olhava para  a cadeira ao lado e preferia tê-la vazia até o fim da viagem, para terminar de escrever seus artigos, sem ter alguém do lado observando ou tentando socializar.
Ela nunca tivera muita sorte com isso, viajando na classe ecônomica, a cadeira ao lado estava sempre ocupada e era de regra que fossem figuras estranhas: de pseudo-cartomante que teimava em tentar adivinhar seu futuro a ex participante de Reallity Show que ainda se achava celebridade, ela conheceu de tudo.
Sonhava com o dia em que viajaria na primeira classe e pudesse escolher qualquer destino. Sonhava com um emprego em um grande jornal e o dia em que seus livros se tornariam best-seller. Enquanto isso, ela se contentava com um emprego em um jornal de circulação estadual e colunas semanais de comportamento.
Para ela, sempre foi fácil resolver os problemas alheios, era quase uma conselheira profissional. E, assim, deixava so seus em segundo plano, ignorava-os solenemente.
Ela olhava para o corredor e a cada passageiro que passava seu coração congelava, temendo ser seu próximo companheiro de viagem.
Distraída olhando para a janela do avião e mirabolando mil planos ela se assustou quando sentou ao seu lado um homem.  Alto, cabelos castanhos bem penteados, olhos claros.
E ela sorriu, abrindo uma exceção, pois a partir daquele momento, tudo que desejava era ser observada e importunada com tentativas de socialização. Os artigos que fossem às favas.

Um comentário:

  1. eu continuo dizend q vc sempre se supera e essa crônica eh mtooo boua msm...das melhores q ja vi...hehe

    ResponderExcluir